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segunda-feira, janeiro 07, 2008

Escritor Luís Pacheco faleceu aos 82 anos

"Chamo-me Luís José Machado Gomes Guerreiro Pacheco, ou só Luís Pacheco, se preferem. Tenho trinta e sete anos, casado, lisboeta, português. Estou na cama de uma camarata, a seis paus a dormida. É asseado, mas não recebo visitas. Também não me apetece fazer visitas. A Ninguém. Estou bastante só. Perdi muito. Perdi quase tudo.
Perdi mãe e perdi pai, que estão no cemitério de Bucelas. Perdi três filhos - a Maria Luísa, o João Miguel, o Fernando António, que estão vivos mas me desprezam (e eu dou-lhes razão). Perdi amigos. Perdi Lisboa; a mulher, a Amada, nunca mais a vi. Perdi os meus livros todos! Perdi muito tempo, já. Se querem saber mais, perdi o gosto da virilidade; se querem saber tudo, perdi a honra. Roubei. Sou o que se chama, na mais profunda baixeza da palavra, um desgraçado. Sou e sei que sou.
Mas, alto lá! sou um tipo livre, intensamente livre, livre até ser libertino (que é uma forma real e corporal de liberdade), livre até à abjecção, que é o resultado de querer ser livre em português.
Até aos trinta e sete anos, até há bem pouco tempo ainda, portanto, julguei que podia, era possível, ser livre salvar-me sozinho, no meio de gente que perdeu a força de ser (livre e sozinha), e já não quer (ou mui pouca quer) salvar-se de maneira nenhuma. Julgava isto, creiam, e joguei-me todo e joguei tudo nisto. Enganava-me. Estou arrependido. Fui duro, fui cruel, fui audaz, fui desumano. Fui pior, porque fui (muitas vezes) injusto e nem sei bem ao certo quando o fui. Fui, o que vulgarmente se chama um tipo bera, um sacana. Não peço que me perdoem. Não quero que me perdoem. Não quero que me perdoem nada. Aconteceu assim:
.Eu para mim já não quero nada, não desejo nada. Tenho tido quase tudo que tenho querido, lute
i para isso (talvez o merecesse). Agora já não quero nada, nada. Já tudo, tanto me faz; tanto faz.Agora oiçam: tenho dois filhos pequenos .... "
Luiz Pacheco in Exercícios de Estilo , Ed. Estampa, pp.161/162

"bitaites" :1) tenho dificuldade em compreender alguns exageros. por uma razão simples. coloco-me sempre a pergunta: e se todos fizéssemos/fossemos assim? (temos todos o mesmo direito, ou não?).2) outra dificuldade: entender a liberdade sem o "outro". a tal liberdade desabitada.3) neo-abjeccionistas há muitos. Manifestam-se de formas diversas (mas nada sinceras como a da declaração apresentada), uns mais rebuscados, outros declaradamente xicos-espertos, outros, inexplicavelmente (?!), muito burros!

 

 
 

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