(...) Ora, era esta última tradição que o trazia entusiasmado já há vários dias, antecipando a hora em que, juntamente com o Rolha, o Enguia e o Ferrete, desceria à discreta mas, outrora majestosa ponte de Covelas para, secreta e irmãmente, repartirem o produto da safra.Embora já tivesse ouvido dizer que noutras terras se festejava de forma diferente, e tipicamente portuguesa, a véspera do Dia dos Fiéis Defuntos, a tradição britânica, de origem aparentemente obscura, tinha a particularidade de possibilitar a angariação de doces para uma boa temporada e, quem sabe, de algum dinheirito para os matraquilhos da escola. (...) Na noite de 30 de Outubro, os quatro amigos reuniram-se, como habitualmente, sob o telheiro da velha escola de Vila de Muros (agora encerrada por encapotada decisão ministerial) em cuja cantina funciona, desde a sua criação, a Associação para o Desenvolvimento do Vale do Bestança – e cujo principal objectivo é proteger um dos rios menos poluídos da Europa de ataques ambientais e, ao mesmo tempo, impedir a instalação naquele límpido afluente do Douro de mini-hídricas que só contribuiriam para a rápida extinção de um rico ecossistema natural. Ali, naquele espaço fascinante e mágico iriam, juntos, delinear estratégias para a noite de 31 de Outubro.